Morcego
O morcego é um animal mamífero
da ordem Chiroptera
cujos membros superiores (braços e mãos) têm formato
de asas
membranosas, tornando-os os únicos mamíferos naturalmente capazes de voar.
Tradicionalmente, divide-se os quirópteros
em morcegos propriamente ditos (subordem Microchiroptera)
e raposas-voadoras (subordem Megachiroptera).
Representam um quarto de toda as espécies
de mamíferos do mundo. São pelo menos 1 116 espécies, que possuem
uma enorme variedade de formas e tamanhos, podem ter uma envergadura de cinco centímetros
a dois metros,
uma enorme capacidade de adaptação a quase qualquer ambiente
(só não ocorrem nos polos) e uma ampla diversidade de hábitos alimentares.
Os morcegos têm a dieta mais variada entre os mamíferos, pois podem comer frutos, sementes,
folhas,
néctar,
pólen,
artrópodes,
pequenos vertebrados,
peixes
e sangue.
Cerca de 70% dos morcegos são insetívoros,
alimentando-se de insetos, sendo praticamente todo o restante frugívoros,
ou seja, alimentam-se de frutas. Somente três espécies se alimentam
exclusivamente de sangue:
são os chamados morcegos hematófagos ou vampiros, encontrados apenas na América
Latina. Dessa maneira, morcegos contribuem substancialmente para a
estrutura e dinâmica dos ecossistemas, pois atuam como polinizadores,
dispersores de sementes,
predadores de insetos
(incluindo pragas agrícolas), fornecedores de nutrientes em cavernas e vetores
de doenças silvestres, dentre outras funções. Possuem ainda o extraordinário
sentido da ecolocalização (biossonar ou orientação por
ecos), que utilizam para orientação, busca de alimento e comunicação.
Etimologia
O termo "morcego"
tem origem no nome arcaico para "rato", "mur" (do latim mure) com
"cego", significando, portanto, "rato cego"
Anatomia
O osso do metacarpo
e o segundo e quinto dedos dos membros anteriores são alongados, e entre eles
existe uma membrana,
chamada "feiosa brósiliti quiropatágio". A membrana se estende dos dedos até ao lado do corpo
e deste até à base dos membro posteriores. A asa inteira de um morcego
é chamada "patágio". Muitas espécies têm também uma membrana entre os
membros posteriores incluindo a cauda.
Esta membrana é o "uropatágio".
Esqueleto de um morcego vampiro comum "Desmodus
rotundus"; note a dentição especializada.
O patágio está cheio de
delicados vasos sanguíneos, fibras musculares
e nervos.
No tempo frio, os morcegos enrolam-se em suas próprias asas como num casaco. No
calor, eles as expandem para refrescar seus corpos.
O polegar
e, às vezes, o segundo dedo dos membros anteriores, têm garras, bem como os cinco
dedos dos membros posteriores. As garras traseiras permitem aos morcegos
agarrarem-se aos galhos ou saliências. Os morcegos também podem se mover no chão,
mas são bastante desajeitados.
Quase todos os morcegos são activos
à noite ou ao crepúsculo, com exceção do grupo das
raposas-voadoras, que inclui muitas espécies diurnas. Os seus sentidos de olfato paladar e audição
são excelentes e, ao contrário do que muitos pensam, morcegos possuem uma boa visão.
Eles possuem também o sentido da ecolocalização (biossonar), que levou a
diversas modificações morfológicas em várias espécies de morcegos, chegando a
aparências bizarras como a dos morcegos Centurio.
Seus dentes, no geral, se
parecem com os dos mamíferos da ordem Insectivora
(toupeiras e musaranhos). Porém, há uma grande variedade de dentições entre os
morcegos, relacionadas às suas linhagens evolutivas e hábitos alimentares. Por
exemplo, morcegos frugívoros costumam ter um grande número de dentes, tendo
molares e pré-molares bem largos e fortes, que usam para mastigar a polpa fibrosa
de muitos frutos. Já morcegos que se alimentam de néctar têm poucos dentes, que
são de menor tamanho, já que esses morcegos só bebem líquidos.
Morcegos-vampiros, por sua vez, têm dentes incisivos bastante grandes e
afiados, que usam para fazer cortes precisos e superficiais nas suas presas,
das quais lambem o sangue.
Ecolocalização
A maioria dos morcegos possui
um sexto sentido,
aliado aos cinco a que nós humanos estamos acostumados: a ecolocalização, ou seja, orientação por ecos.
Este sentido funciona, basicamente, da seguinte maneira: o morcego emite ondas ultrassônicas
(frequência acima de 20 KHz, inaudíveis para humanos) pelas narinas ou pela boca, dependendo da
espécie. Essas ondas atingem obstáculos no ambiente
e voltam na forma de ecos com
frequência maior pois ao voltar o eco mais a velocidade do morcego são somadas.
(Efeito Doppler).
Esses ecos são percebidos pelo morcego. Com base no tempo em que os ecos
demoraram a voltar, nas direções de onde vieram, e na frequência relativa dos
ecos (efeito Doppler), os morcegos sentem se há
obstáculos no caminho, assim como suas distâncias, formas e velocidades
relativas. Isso é especialmente útil para caçar insetos voadores, por exemplo,
mas morcegos com outras dietas também usam bastante esse sentido.
Alguns dos ancestrais dos
morcegos - musaranhos e toupeiras (mamíferos da ordem Insectivora)
- já possuíam um sistema de ecolocalização rudimentar. Supõe-se que os morcegos
da subordem Microchiroptera desenvolveram seu sistema sofisticado como uma
novidade evolutiva, e que as raposas-voadoras da subordem Megachiroptera
perderam esse sistema originalmente, tendo algumas espécies desenvolvido
posteriormente um sistema rudimentar baseado em cliques da língua. Outros
sistemas de ecolocalização evoluíram de forma independente em golfinhos,
baleias,
andorinhões e outros animais.
A ecolocalização também pode
ser chamada de biossonar, pois a partir desse sistema natural foram
desenvolvidos os sonares
de navios e
os aparelhos de ultrassom. Na verdade, nenhuma "imitação
humana" se compara à qualidade do sistema natural. Assim, os morcegos
contam com um recurso muito importante para animais que precisam se orientar à
noite ou em ambientes escuros, como as cavernas.
A eficiência da ecolocalização varia entre as espécies de morcegos, sendo que
os de hábito alimentar insetívoro, ou predadores de insetos em geral,
possuem-no mais desenvolvido. A ecolocalização é importante também para
morcegos que se alimentam de plantas, pois ela os ajuda a encontrar frutos e
flores, e reconhecer suas espécies com base no padrão de ecos que produzem.
Alguns morcegos usam a
ecolocalização também para se comunicar com outros indivíduos da mesma espécie;
isso é importante principalmente no reconhecimento entre mães e filhotes. Já se
tem estudado aplicações da ecolocalização na orientação de pessoas cegas.
Morcegos vampiros (subfamília
Desmodontinae) tem ainda um sétimo sentido, a termopercepção
Um morcego recém-nascido se
agarra à pele da mãe e é transportado, embora logo se torne grande demais para
isto. Seria difícil para um adulto carregar mais de uma cria, portanto
normalmente nasce apenas uma. Os morcegos frequentemente formam colônias-berçário,
com muitas fêmeas dando à luz na mesma área, seja uma caverna,
um oco de árvore ou uma cavidade numa construção. A gestação dura de dois (em
algumas espécies de morcegos frugívoros) a sete meses (em morcegos
hematófagos), variando conforme a espécie. Em algumas espécies duas glândulas mamárias estão situadas entre o peito
e os ombros (axilares),
mas também podem ser peitorais ou abdominais.
Embora a habilidade de voar
seja congênita, imediatamente após o nascimento as asas ainda são pequenas
demais para voar. Os jovens morcegos da ordem Microchiroptera
se tornam independentes com a idade de seis a oito semanas, os da ordem Megachiroptera
não antes dos quatro meses. Com a idade de dois anos os morcegos estão sexualmente maduros.
A maioria dos morcegos tem
apenas um filhote por gestação e de uma a duas gestações por ano. Há exceções
como os morcegos do gênero Lasiurus, que costumam ter quadrigêmeos, e
alguns morcegos Myotis, que podem ter três ou quatro gestações por ano.
A expectativa de vida do morcego vai de quatro a trinta anos, variando muito
conforme a espécie. Morcegos que se alimentam de plantas costumam ter sua
sazonalidade reprodutiva influenciada pela oferta dos frutos ou flores de que
mais gostam, porém em alguns locais as variações no clima podem ser muito
importantes.
Morcegos apresentam uma
grande variedade de comportamentos reprodutivos. Em geral, a maioria das
espécies de morcegos é poligínica, ou seja, um macho dominante mantém o
controle sobre várias fêmeas (harém), enquanto machos subordinados lutam para
conseguir copular secretamente com algumas delas. Há espécies de morcegos em
que os machos têm glândulas de cheiro nos ombros ou pescoço, usadas para emitir
odores que atraem as fêmeas. Em outras espécies os machos têm ornamentos, como
cristas na cabeça, que desempenham um papel na seleção sexual. Além disso,
algumas espécies apresentam comportamentos sexuais bem curiosos, como até mesmo
felação.
Transmissão da raiva
Ainda que o perigo de
transmissão de raiva se resuma aos locais onde essa doença é endêmica,
dos poucos casos relatados anualmente em algumas localidades, a maioria é
causada por mordidas de morcegos. Porém, na maioria dos lugares, especialmente
nas cidades, os principais transmissores da raiva ainda são cães e gatos.
Embora a maioria dos morcegos não tenha raiva, os que têm podem ficar pesados,
desorientados, incapazes de voar, o que torna mais provável que entrem em
contato com seres humanos. Outras mudanças no comportamento do morcego
contaminado são atividade alimentar diurna, hiperexcitabilidade, agressividade,
tremores, falta de coordenação dos movimentos, contrações musculares e
paralisia, seguida de óbito. O maior problema relacionado à raiva transmitida
por morcegos são as mortes de animais de criação, principalmente bois. Os
principais morcegos transmissores de raiva são da subfamília Desmodontinae
(família Phyllostomidae), os famosos morcegos vampiros, porém morcegos de
outros tipos também podem se contaminar e transmitir a doença.
Embora não se deva ter um
medo desmesurado de morcegos, deve-se evitar manipulá-los ou tê-los no lugar
onde se vive, tal como acontece com qualquer animal selvagem.
Os morcegos vampiros têm
dentes muito pequenos e afiados, então podem morder uma pessoa adormecida sem
que sejam sentidos. Além disso, eles são muito pequenos (cerca de 30 g), seu
ataque é muito sutil e sua mordida é superficial, por isso é difícil que
acordem a presa. Morcegos vampiros tem ainda um sétimo sentido, a termopercepção,
que funciona através de mecanismos fisiológicos finamente ajustados e os auxilia a descobrir os vasos sanguíneos
mais superficiais, propiciando assim uma mordida mais rasa e, portanto, menos
dolorida. Morcegos vampiros não têm anestésico na saliva, ao contrário do que
algumas pessoas acreditam. Porém, eles têm um forte anticoagulante na saliva,
que retarda a cicatrização da ferida, permitindo que se alimentem por mais
tempo; essa substância tem sido estudada para a elaboração de remédios para a
circulação.
Se um morcego for encontrado
em uma casa e não se puder excluir a possibilidade de exposição, o morcego deve
ser capturado e imediatamente encaminhado para o centro local de controle de zoonose
para ser observado. Isto também se aplica se o morcego for encontrado morto. Se
for certo que ninguém foi exposto ao morcego, ele deve ser retirado da casa. A
melhor forma de fazê-lo é fechar todas as portas e janelas do cômodo exceto uma
para o exterior. O morcego logo sairá.
Devido ao risco de raiva e
também há problemas de saúde relacionados a suas fezes, que podem conter,
entre outros, os fungos
causadores da histoplasmose, os morcegos devem ser retirados
das partes habitadas das casas. Nos locais onde a raiva não é endêmica, como na
maior parte da Europa
ocidental, pequenos morcegos são considerados inofensivos.
Referencias bibliograficas
- Ir
para: a b
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda
edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 158
- Ir para cima ↑ Simmons
NB. 2005. Order Chiroptera. In: Wilson
DE, Reeder DM, editors. Mammal species of the world: a taxonomic and
geographic reference. Baltimore: Johns Hopkins University Press. p 312-529
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