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terça-feira, 2 de junho de 2015

Vacinação com toxóide tetânico (TT) e redução de oportunidades perdidas



Todos os anos, mais de quatro milhões de crianças africanas, incluindo mais de um milhão de recém-nascidos, morrem antes do seu quinto aniversário, e muitas delas morrem de doenças evitáveis com vacinas. Os programas de vacinação e de imunização são fundamentais para reduzir o número de mortes, de doenças e de incapacidades. Todos os países criaram programas de vacinação, mas a sua cobertura está muitas vezes dependente do estádio de desenvolvimento do sistema de saúde de cada país, como as suas infra-estruturas, capacidade de gestão, e verbas disponíveis.
A incapacidade de alcançar as mães e os recém-nascidos, especialmente através do Controlo Pré-Natal (CPN) e no período pós-natal imediatamente seguinte, contribui para as lacunas que se verificam na cobertura das vacinações. Por conseguinte, devido a estes factores, não se atingiu ainda o objetivo da cobertura universal, importante tanto do ponto de vista da vacinação como da igualdade de direitos. Os encargos com o tétano materno e neonatal (TMN) e o rácio custo/eficácia da sua prevenção convertem a eliminação do tétano materno e neonatal (ETMN) num tema especialmente relevante para a sobrevivência de ambos. A falta de uma cobertura eficaz de vacinações, especialmente da vacinação do toxóide tetânico, e as oportunidades não aproveitadas dos programas de vacinação, afectam negativamente as mulheres, os recém-nascidos e as crianças.
Efeitos nas mulheres: devido ao facto de a infecção materna com tétano ser uma condição associada à pobreza e que afecta mulheres não vacinadas e que dão à luz em condições não higiénicas, não existem informações sobre a dimensão do problema. A verdadeira tragédia consiste em que as mortes atribuídas à infecção pelo tétano poderiam ter sido evitadas através de Controlo Pré-Natal focalizado, de vacinações, de práticas higiénicas durante o parto, e de Controlo Pós-Natal eficaz. Contudo, os programas de vacinação não conseguem vacinar muitas mulheres com duas ou mais doses de toxóide tetânico (TT2+), o que revela que há estruturas inadequadas nos sistemas de saúde que afectam sobretudo os que têm menos possibilidades de acesso aos cuidados de saúde, como é o caso dos grupos minoritários e das populações rurais.
Efeitos nos recém-nascidos: as infecções, incluindo as do tétano, representam 39 por cento dos 1,16 milhões de mortes de recém-nascidos que ocorrem anualmente na África Sub-Sahariana. Contudo, a elevada taxa de mortalidade neonatal da região proporciona a oportunidade de se reduzirem de forma acentuada as mortes devidas a infecções, concretamente as causadas pelo tétano. De acordo com estimativas recentes, o tétano neonatal causa 70 000 mortes em 30 países africanos, mas porque se trata de uma doença dos pobres, cujas mortes muitas vezes nem constam das estatísticas, não há muitas certezas acerca dessas estimativas. As taxas de casos fatais para esta infecção são altas e 70 a 95 por cento dos bebés infectados podem morrer se não forem submetidos a cuidados intensivos.
Efeitos nas crianças: A protecção que um recém-nascido pode ter contra o tétano, que é adquirida através da transmissão das anti-toxinas do tétano, de uma mãe vacinada para o feto durante a gravidez, não durará ao longo de toda a infância, o que coloca a criança em crescimento sob um maior risco de infecção. Por conseguinte, as crianças devem ser submetidas a um plano de vacinações completo que inclua o toxóide tetânico. Na maioria dos países, os planos de vacinação incluem a vacina contra o Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), a vacina contra a difteria, a tosse convulsa e o tétano, a vacinação anti-pneumocócica, a vacina contra a poliomielite (VAP), e as vacinas contra o sarampo e a Heptatite B.
A maioria destes planos tem como alvo as crianças antes do seu primeiro aniversário mas podendo se prolongar até os dois anos de idade. Para ficarem completamente protegidas contra doenças evitáveis por vacinação, as crianças deverão ser postas em contacto com os serviços de saúde, diversas vezes, no seu primeiro ano de vida. 
Certas práticas sociais e culturais podem aumentar o risco de algumas enfermidades evitáveis pela vacinação, afectando assim adversamente a cobertura que se pretende. Nalgumas comunidades pastoris, por exemplo, colocar fezes de vaca no cordão umbilical é considerado uma bênção que assegura que o bebé vai possuir muito gado.
Esta prática, contudo, implica um enorme risco de infecção pelo tétano neonatal. Noutros casos, as comunidades podem recear e rejeitar a vacinação, especialmente das mulheres grávidas, porque a interpretam como uma prática de controlo de natalidade.
É preciso que nos postos fixos, brigadas moveis e dias mensais de vacinação as mães e a comunidade no geral sejam muito bem infomadas sobre os benefícios da vacinação e evitar sobretudo o desperdício de oportunidades de vacinação. Em algumas comunidades, é frequente que as mães digam que já vacinaram, nesses casos é obrigado que o técnico de saúde exija um comprovativo, caso não tenham é preciso que a mãe seja vacinada, assim como para as que digam terem perdido os seus cartões.
Outra forma de ter uma cobertura estável da vacinação anti-tetânica, é a estratégia de vacinação escolar de todas as mulheres em idade fértil (MIFs), dos 15-49 anos de idade em todas as escolas secundarias. Devido ao fraco poder financeiro de alguns países, a vacinação para MIFs é feita uma vez a cada ano, podendo as interessadas em continuar as doses o fazerem nas unidades sanitárias.
Lembre-se que a única forma de abrangir maior número possível de mulheres vacinadas com o toxóide tetânico, é reduzir as oportunidades perdidas, toda mulher que comparecer em sua unidade sanitária que tenha entre 15-49 anos de idade, independentemente do motivo que a traga, é imprescindível que seja vacinada e atribuída um cartão para garantir o prosseguimento das doses subsequentes.

Referencias
WHO position papers for rubella, Hepatitis B, BCG and tetanus vacines
Infant feeding options in the context of VIH. LINKAGES Project, AED, Washington DC, 2005.

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