Todos os anos, mais de quatro milhões de crianças africanas,
incluindo mais de um milhão de recém-nascidos, morrem antes do seu quinto
aniversário, e muitas delas morrem de doenças evitáveis com vacinas. Os
programas de vacinação e de imunização são fundamentais para reduzir o número
de mortes, de doenças e de incapacidades. Todos os países criaram programas de
vacinação, mas a sua cobertura está muitas vezes dependente do estádio de desenvolvimento
do sistema de saúde de cada país, como as suas infra-estruturas, capacidade de
gestão, e verbas disponíveis.
A incapacidade de alcançar as mães e os recém-nascidos,
especialmente através do Controlo Pré-Natal (CPN) e no período pós-natal imediatamente
seguinte, contribui para as lacunas que se verificam na cobertura das vacinações.
Por conseguinte, devido a estes factores, não se atingiu ainda o objetivo da
cobertura universal, importante tanto do ponto de vista da vacinação como da igualdade
de direitos. Os encargos com o tétano materno e neonatal (TMN) e o rácio
custo/eficácia da sua prevenção convertem a eliminação do tétano materno e
neonatal (ETMN) num tema especialmente relevante para a sobrevivência de ambos.
A falta de uma cobertura eficaz de vacinações, especialmente da vacinação do
toxóide tetânico, e as oportunidades não aproveitadas dos programas de
vacinação, afectam negativamente as mulheres, os recém-nascidos e as crianças.
Efeitos nas mulheres: devido ao facto de a infecção materna com tétano ser uma
condição associada à pobreza e que afecta mulheres não vacinadas e que dão à
luz em condições não higiénicas, não existem informações sobre a dimensão do
problema. A verdadeira tragédia consiste em que as mortes atribuídas à infecção
pelo tétano poderiam ter sido evitadas através de Controlo Pré-Natal
focalizado, de vacinações, de práticas higiénicas durante o parto, e de
Controlo Pós-Natal eficaz. Contudo, os programas de vacinação não conseguem
vacinar muitas mulheres com duas ou mais doses de toxóide tetânico (TT2+), o
que revela que há estruturas inadequadas nos sistemas de saúde que afectam
sobretudo os que têm menos possibilidades de acesso aos cuidados de saúde, como
é o caso dos grupos minoritários e das populações rurais.
Efeitos nos recém-nascidos: as infecções, incluindo as do tétano, representam 39 por
cento dos 1,16 milhões de mortes de recém-nascidos que ocorrem anualmente na
África Sub-Sahariana. Contudo, a elevada taxa de mortalidade neonatal da região
proporciona a oportunidade de se reduzirem de forma acentuada as mortes devidas
a infecções, concretamente as causadas pelo tétano. De acordo com estimativas
recentes, o tétano neonatal causa 70 000 mortes em 30 países africanos, mas
porque se trata de uma doença dos pobres, cujas mortes muitas vezes nem constam
das estatísticas, não há muitas certezas acerca dessas estimativas. As taxas de
casos fatais para esta infecção são altas e 70 a 95 por cento dos bebés infectados podem morrer se
não forem submetidos a cuidados intensivos.
Efeitos nas crianças: A protecção que um recém-nascido pode ter contra o tétano,
que é adquirida através da transmissão das anti-toxinas do tétano, de uma mãe
vacinada para o feto durante a gravidez, não durará ao longo de toda a infância,
o que coloca a criança em crescimento sob um maior risco de infecção. Por
conseguinte, as crianças devem ser submetidas a um plano de vacinações completo
que inclua o toxóide tetânico. Na maioria dos países, os planos de vacinação
incluem a vacina contra o Bacilo de Calmette-Guérin (BCG), a vacina contra a
difteria, a tosse convulsa e o tétano, a vacinação anti-pneumocócica, a vacina
contra a poliomielite (VAP), e as vacinas contra o sarampo e a Heptatite B.
A maioria destes planos tem como alvo as crianças antes
do seu primeiro aniversário mas podendo se prolongar até os dois anos de idade.
Para ficarem completamente protegidas contra doenças evitáveis por vacinação,
as crianças deverão ser postas em contacto com os serviços de saúde, diversas
vezes, no seu primeiro ano de vida.
Certas práticas sociais e culturais podem aumentar o
risco de algumas enfermidades evitáveis pela vacinação, afectando assim
adversamente a cobertura que se pretende. Nalgumas comunidades pastoris, por
exemplo, colocar fezes de vaca no cordão umbilical é considerado uma bênção que
assegura que o bebé vai possuir muito gado.
Esta prática, contudo, implica um enorme risco de
infecção pelo tétano neonatal. Noutros casos, as comunidades podem recear e
rejeitar a vacinação, especialmente das mulheres grávidas, porque a interpretam
como uma prática de controlo de natalidade.
É preciso que nos postos fixos, brigadas moveis e dias
mensais de vacinação as mães e a comunidade no geral sejam muito bem infomadas
sobre os benefícios da vacinação e evitar sobretudo o desperdício de
oportunidades de vacinação. Em algumas comunidades, é frequente que as mães digam
que já vacinaram, nesses casos é obrigado que o técnico de saúde exija um
comprovativo, caso não tenham é preciso que a mãe seja vacinada, assim como
para as que digam terem perdido os seus cartões.
Outra forma de ter uma cobertura estável da vacinação anti-tetânica,
é a estratégia de vacinação escolar de todas as mulheres em idade fértil (MIFs),
dos 15-49 anos de idade em todas as escolas secundarias. Devido ao fraco poder
financeiro de alguns países, a vacinação para MIFs é feita uma vez a cada ano,
podendo as interessadas em continuar as doses o fazerem nas unidades sanitárias.
Lembre-se
que a única forma de abrangir maior número possível de mulheres vacinadas com o
toxóide tetânico, é reduzir as oportunidades perdidas, toda mulher que comparecer
em sua unidade sanitária que tenha entre 15-49 anos de idade, independentemente
do motivo que a traga, é imprescindível que seja vacinada e atribuída um cartão
para garantir o prosseguimento das doses subsequentes.
Referencias
WHO position papers for
rubella, Hepatitis B, BCG and tetanus vacines
Infant feeding options in
the context of VIH. LINKAGES Project, AED, Washington DC, 2005.
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