Estudos recentes referem que Moçambique possui
uma cobertura de floresta de mangal que varia entre 290 000 e 368 000 ha
(Pereira et al., 2014), sendo considerada a terceira maior cobertura de floresta
de mangal em África e a maior da costa oriental do continente (FAO, 2007; Giri et
al., 2011).
Em Moçambique, as florestas de mangal ocorrem
em aglomerados ao longo de toda a linha de costa, sendo mais abundantes na
região centro e norte. Na região norte, as florestas de mangal ocorrem em
estuários, baías e em áreas mais abrigadas (Pereira et al., 2014).
As ameaças à conservação das florestas de mangal
incluem potencialmente a demanda por madeira e combustível lenhoso,
desmatamento para a construção de infraestruturas para habitação e indústria,
agricultura, extracção de sal e várias actividades ligadas ao desenvolvimento
costeiro (i.e. exploração de areias pesadas e hidrocarbonetos como o gás e o
petróleo; Chevallier et al., 2013). Existem também questões de gestão
ligadas ao quadro legal-institucional que requerem atenção.
Principais benefícios sociais, ambientais e económicos do projecto
Os mangais providenciam uma série de serviços
ecológicos e socio-económicos importantes para as comunidades costeiras e não
só. Ecologicamente são um local de uma grande biodiversidade, incluindo
plantas, animais, bactérias, fungos e outros grupos tróficos importantes
(Hogarth, 2015). A grande diversidade de fauna abrange mamíferos, aves (incluindo
várias espécies protegidas), peixes (muitos de elevado valor comercial),
crustáceos (incluindo os economicamente importantes, camarão e o caranguejo) e
moluscos.
Os caranguejos de mangal, são considerados como
espécies chave pelo facto de desempenharem um papel muito importante na
perturbação que facilita a aeração do solo, bem como na decomposição da
folhagem do mangal, contribuindo desta forma, na formação e manutenção das
propriedades do solo, as quais são a base para a sobrevivência do mangal (Kathiresan
& Bingham, 2001; Macia, 2004; Paula et al., 2014).
A
produção de biomassa foliar, que depois é decomposta e disponibilizada na forma
de matéria orgânica constitui um dos papéis importantes dos mangais (Fernando
& Bandeira, 2009). Estudos indicam que a alimentação de muitas espécies
comerciais de peixe e camarão é assegurada em grande medida pelo material
produzido nos mangais (Clark, 1996).
Os mangais, com as suas raízes e estrutura
complexa, constituem um óptimo habitat para a desova, alimentação e protecção
contra a predação, de muitas espécies marinhas e costeiras (Kathiresan & Bingham,
2001; Hogarth, 2015). Também protegem a costa contra picos de marés altas, tsunamis
e ciclones (Clark, 1996; Kathiresan & Rajendran, 2005; Das &
Vincent, 2009). Como bio-filtro, os mangais reciclam os nutrientes através da
degradação da matéria orgânica, sendo reguladores da qualidade da água (Wu et
al., 2008).
Como qualquer outro tipo de floresta, os
mangais são sequestradores de carbono, e no contexto actual das mudanças
climáticas e sua mitigação, ocupam lugar de destaque, dado que sequestram e retêm
maior quantidade de carbono que qualquer outra floresta terrestre (Donato et
al., 2011). Estudos conduzidos em Moçambique na Baía de Sofala (Anjos, 2011;
Sitoe, não publicado), indicam que o carbono contido nos mangais (mesmo não
intactos) é cerca do dobro do carbono contido no miombo e no mopane, as duas
comunidades vegetais predominantes no país.
No plano social, os mangais também são
importantes como locais para a prática de várias actividades económicas,
incluindo a pesca, a aquacultura, o ecoturismo, a apicultura e outras (Taylor et
al., 2003). Os mangais são também locais de culto em muitas regiões,
possuindo um alto valor cultural. Dos mangais, as comunidades costeiras extraem
medicamentos, taninos (um polifenol de origem vegetal usado como tinta),
madeira, estacas e combustível doméstico (Taylor et al., 2003; Bentjee
& Bandeira, 2007, Bosire et al., 2016).
Referencias
bibliográficas
ANAC
(Administração Nacional das Áreas de Conservação) (in prep. a) Plano de Maneio
da Reserva Nacional do Pomene. Volume 1, 76 pp. Maputo,
ANAC, MITADER
Bandeira
S, Macamo C, Mahazule R, Mabilana H (2016) Estudo de licoes aprendidas e boas praticas
de reabilitacao do mangal. Avaliacao do Programa de Restauracao de Mangal no Estuario
do Limpopo (Gaza), Tsolombane em Matutuine (Maputo), Nhangau (Sofala), Inhassunge
e Macuze (Zambezia) e Mecufi e Metuge (Cabo Delgado). NIRAS, Maputo. 70 pp
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