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domingo, 14 de janeiro de 2018

CONSERVAÇÃO DO MANGAL, UM DESAFIO PARA TODOS

Estudos recentes referem que Moçambique possui uma cobertura de floresta de mangal que varia entre 290 000 e 368 000 ha (Pereira et al., 2014), sendo considerada a terceira maior cobertura de floresta de mangal em África e a maior da costa oriental do continente (FAO, 2007; Giri et al., 2011).
Em Moçambique, as florestas de mangal ocorrem em aglomerados ao longo de toda a linha de costa, sendo mais abundantes na região centro e norte. Na região norte, as florestas de mangal ocorrem em estuários, baías e em áreas mais abrigadas (Pereira et al., 2014).
As ameaças à conservação das florestas de mangal incluem potencialmente a demanda por madeira e combustível lenhoso, desmatamento para a construção de infraestruturas para habitação e indústria, agricultura, extracção de sal e várias actividades ligadas ao desenvolvimento costeiro (i.e. exploração de areias pesadas e hidrocarbonetos como o gás e o petróleo; Chevallier et al., 2013). Existem também questões de gestão ligadas ao quadro legal-institucional que requerem atenção.

Principais benefícios sociais, ambientais e económicos do projecto

Os mangais providenciam uma série de serviços ecológicos e socio-económicos importantes para as comunidades costeiras e não só. Ecologicamente são um local de uma grande biodiversidade, incluindo plantas, animais, bactérias, fungos e outros grupos tróficos importantes (Hogarth, 2015). A grande diversidade de fauna abrange mamíferos, aves (incluindo várias espécies protegidas), peixes (muitos de elevado valor comercial), crustáceos (incluindo os economicamente importantes, camarão e o caranguejo) e moluscos.
Os caranguejos de mangal, são considerados como espécies chave pelo facto de desempenharem um papel muito importante na perturbação que facilita a aeração do solo, bem como na decomposição da folhagem do mangal, contribuindo desta forma, na formação e manutenção das propriedades do solo, as quais são a base para a sobrevivência do mangal (Kathiresan & Bingham, 2001; Macia, 2004; Paula et al., 2014).

 A produção de biomassa foliar, que depois é decomposta e disponibilizada na forma de matéria orgânica constitui um dos papéis importantes dos mangais (Fernando & Bandeira, 2009). Estudos indicam que a alimentação de muitas espécies comerciais de peixe e camarão é assegurada em grande medida pelo material produzido nos mangais (Clark, 1996).
Os mangais, com as suas raízes e estrutura complexa, constituem um óptimo habitat para a desova, alimentação e protecção contra a predação, de muitas espécies marinhas e costeiras (Kathiresan & Bingham, 2001; Hogarth, 2015). Também protegem a costa contra picos de marés altas, tsunamis e ciclones (Clark, 1996; Kathiresan & Rajendran, 2005; Das & Vincent, 2009). Como bio-filtro, os mangais reciclam os nutrientes através da degradação da matéria orgânica, sendo reguladores da qualidade da água (Wu et al., 2008).
Como qualquer outro tipo de floresta, os mangais são sequestradores de carbono, e no contexto actual das mudanças climáticas e sua mitigação, ocupam lugar de destaque, dado que sequestram e retêm maior quantidade de carbono que qualquer outra floresta terrestre (Donato et al., 2011). Estudos conduzidos em Moçambique na Baía de Sofala (Anjos, 2011; Sitoe, não publicado), indicam que o carbono contido nos mangais (mesmo não intactos) é cerca do dobro do carbono contido no miombo e no mopane, as duas comunidades vegetais predominantes no país.

No plano social, os mangais também são importantes como locais para a prática de várias actividades económicas, incluindo a pesca, a aquacultura, o ecoturismo, a apicultura e outras (Taylor et al., 2003). Os mangais são também locais de culto em muitas regiões, possuindo um alto valor cultural. Dos mangais, as comunidades costeiras extraem medicamentos, taninos (um polifenol de origem vegetal usado como tinta), madeira, estacas e combustível doméstico (Taylor et al., 2003; Bentjee & Bandeira, 2007, Bosire et al., 2016).



Referencias bibliográficas
ANAC (Administração Nacional das Áreas de Conservação) (in prep. a) Plano de Maneio da Reserva Nacional do Pomene. Volume 1, 76 pp. Maputo, ANAC, MITADER

Bandeira S, Macamo C, Mahazule R, Mabilana H (2016) Estudo de licoes aprendidas e boas praticas de reabilitacao do mangal. Avaliacao do Programa de Restauracao de Mangal no Estuario do Limpopo (Gaza), Tsolombane em Matutuine (Maputo), Nhangau (Sofala), Inhassunge e Macuze (Zambezia) e Mecufi e Metuge (Cabo Delgado). NIRAS, Maputo. 70 pp


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