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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Refletindo sobre a Malária

Falar de Malária  em Moçambique é mesmo que falar daquele problema que o povo acha “normal”, o estranho seria não contrai-la. Se calhar seja por essa razão que a endemia continua sendo uma das principais causas de procura de serviços sanitários no País, constituindo assim o padrão de doença e mortalidade ao longo dos tempos.
Epidemiologicamente, esta doença distribui-se por regiões de clima tropical quente e temperado, devido as condições que o seu vector (mosquito) necessita para a sua multiplicação, associado a este factor, o deficiente saneamento do meio, acúmulo de aguas residuais, principalmente nas zonas urbanas, a desinformação ou falta de informação das populações  sobre as medidas de prevenção constituem em parte as razões  para o aumento de casos.
É comum ouvir utentes nas unidades Sanitárias a darem diagnostico da Malária , apesar dos meios auxiliares de diagnóstico mostrarem o contrario. Afinal, como disse, esta doença e considerada normal entre muitos moçambicanos que estão vulneráveis a contrair e nalgum momento ignoram a sua prevenção. Não é novidade que muitos aplicam inadequadamente aquela que é considerada a medida mais eficaz de prevenção, a rede mosquiteira.
Alguns preferem usa-la nas actividades pesqueiras, outros na machamba, outros ainda para vedação de capoeiras ou filtração de águas em cisternas. Estas práticas levam-nos a refletir sobre ate que ponto a malária é realmente levada como problema de saúde entre as comunidades e que repercussões trás a vida das populações. Se esta questão for discutida entre os intervenientes, provavelmente a incidência e prevalência seriam baixas, o que significa que menos pessoas seriam acometidas e não sofreriam suas consequências.
A questão é de consciência e nível de interesse pela causa em todos sentidos, tanto pelos provedores de saúde, quanto pela comunidade. O desinteresse é generalizado, pois, ate quem tem informação e que devia transmitir a outros ignora. O que se pode esperar de quem a ouve com terceiros, muitas vezes implícita e deturbada, porque quem a transmite já tem um preconceito sobre a sua relevância e só o faz porque enfim…
A adoção de hábitos favoráveis à saúde parte primeiramente de os envolvidos na causa sentirem se parte integrante do problema e, o interesse pela resolução ser intrínseco. Não se justifica, na minha opinião, a incidência da Malária ser crescente a cada ano, enquanto a cada ano são traçadas novas estratégias, são formados mais profissionais de saúde, activistas comunitários e todos estão empenhados na mesma causa.
O que esta a falhar? Se lembrarmos o oitavo postulado do ALFRED ENVAS: “A eliminação ou modificação da causa provável deve diminuir a incidência da doença” sugere nos uma outra percepção e questionamento sobre a eficácia do trabalho que esta sendo feito para eliminar a causa da Malária, o mosquito.
Aliás, esta é a questão de base: pretende-se eliminar o mosquito, ou evitar que o mosquito entre em contacto com o hospedeiro susceptível, o homem? Se atendermos a esta questão, se calhar far-se-á aposta mais certa pelos políticos, governantes, profissionais de saúde, etc. o que se tem notado nas ultimas décadas é uma aposta ineficaz, que é a distribuição de redes mosquiteiras e vários factores são ignorados quanto a sua aplicação, alguns dos quais já nos referimos anteriormente.
Provavelmente, 90% das pessoas que contraem a Malária não o fazem enquanto dormem, porque provavelmente estejam a usar a rede Mosquiteira e mesmo assim adoecem, com isso a credibilidade da rede mosquiteira diminui substancialmente, a isso associam-se outras concepções como: a rede causa calor, não apanho sono dentro da rede, no inverno não tem mosquitos, etc.  
Particularmente, acho que as medidas de prevenção da Malária não deviam estar centradas no hospedeiro (homem) mas sim no meio ambiente porque é onde o mosquito se encontra e replica-se constantemente. Os métodos de prevenção deviam ser conjugados e aplicados simultaneamente com prioridade para o meio ambiente. Haver uma eliminação dos potencias criadouros dos mosquitos, seja pela aplicação de insecticidas e adoção de politicas rigorosas e sustentáveis de saneamento de meio a todos níveis e aliado a isto o correcto diagnostico e tratamento dos casos confirmados.  

Noraldino Nuva   

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