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domingo, 14 de agosto de 2016

Fobia social (Timidez), impacto no desempenho profissional

É comum ouvirmos amigos, parentes e até mesmo desconhecidos afirmarem que são tímidos. Uns, ainda que apresentem certa extroversão social, juram que no fundo, bem lá no fundo, são tímidos essenciais. Mas afinal, o que é timidez?
É com total franqueza que lhes afirmo que até hoje, após muitos anos de pesquisa, não consegui elaborar nenhuma definição que possa, de fato, descrever o que é a timidez. Para meu consolo, pude verificar, ao aprofundar meus estudos nessa dimensão humana tão intrigante, que vários autores e pesquisadores também tentaram elaborar teorias que pudessem desvendar essa faceta do comportamento humano que aflige tantas pessoas.
Apesar de existirem muitas teorias sobre a timidez, ninguém sabe exatamente o que ela significa.
Por outro lado, todos são unânimes em reconhecer sua força. Isso
porque a timidez pode transformar toda uma existência. Enquanto ela evoluir ao longo da vida, é capaz de estender seus “tentáculos” por todos os aspectos da vivência humana. Isso inclui os planos profissionais, reduzindo ou impossibilitando aspirações e desempenhos; as questões pessoais e sociais, como dificuldades em relacionamentos afetivos (noivados, casamentos, criação de filhos); a vida acadêmica e até o estabelecimento de elos de amizade e companheirismo.
A timidez costuma se transformar, ou melhor, se intensificar, à medida que amadurecemos e enfrentamos novos desafios.
No dia a dia, costumamos identificar a timidez pelo desconforto e pelas inibições que as pessoas apresentam em seus comportamentos, quando se encontram na presença de outras pessoas. As manifestações mais comuns e facilmente perceptíveis são: o silêncio, o retraimento físico, o rubor na face (vermelhidão no rosto), a gagueira na fala e a sensação de ansiedade. Quando utilizo a expressão “inibição do comportamento”, refiro-me à timidez que pode ser observada na forma de quietude, do afastamento das pessoas e/ou de ambientes agitados ou estimulantes.
Em minha prática profissional diária, pude observar que os tímidos ficam inibidos ou retraídos quando enfrentam o “novo”, principalmente em situações sociais não familiares. Eles se preocupam excessivamente com os seus desempenhos sociais e também com o julgamento que as pessoas farão de seus comportamentos. Para eles, situações sociais são eventos imprevisíveis e incontroláveis.
Constato também que as pessoas tímidas, em sua grande maioria, tendem a seguir rígidas e velhas rotinas, uma vez que já foram vivenciadas e testadas por elas. Por isso mesmo, os tímidos agem de forma relativamente constante, com o intuito de evitar as novidades e as incertezas do quotidiano. Tal qual numa luta, criam uma tática de fuga ou evasão para se sentirem mais seguros. No entanto, essa mesma segurança acaba por limitar muito as possibilidades de experiências vitais, contribuindo para alimentar ainda mais a engrenagem da timidez. É aquela velha história de que tudo na vida tem seu lado positivo e seu lado negativo, até porque não existem ganhos sem perdas, e viver é o eterno desafio de equilibrar a trama da nossa existência.
Antes de prosseguir, é fundamental fazer uma pequena, porém necessária, distinção entre timidez e introversão, pois a maioria das pessoas confunde essas duas características do comportamento humano. Pessoas introvertidas não são necessariamente tímidas. Elas têm as habilidades de convívio social e auto-estima suficiente para obterem êxito nos relacionamentos interpessoais, porém preferem explicitamente ficar sozinhas. Os introvertidos se sentem bem, e até mesmo revigorados, pela solidão voluntária e não apresentam qualquer ansiedade ou necessidade de aprovação quando estão na companhia dos outros. A inibição, os pensamentos de derrota e a ansiedade sobre o desempenho, tão frequentes nos tímidos, não ocorrem com os introvertidos. Quando as pessoas tímidas se abrem e revelam seus sentimentos, geralmente em suas terapias, demonstram um desejo intenso de que as outras pessoas as notem e as aceitem. No entanto, julgam-se incapazes de exercer as habilidades, os sentimentos, os pensamentos e as atitudes necessárias a uma boa interação social.
Importante ressaltar que o fato de as pessoas tímidas terem dificuldades de se relacionar socialmente não significa que elas sejam antissociais. Isso é um grande equívoco! É preciso ficar claro que indivíduos antissociais são aqueles que se relacionam sem qualquer receio ou constrangimento com diversas pessoas, mas não seguem nenhuma ética ou valores morais necessários para uma boa e saudável convivência social. Esses indivíduos, também conhecidos como sociopatas ou psicopatas, geralmente estão camuflados de pessoas “do bem” e utilizam-se da boa fé e generosidade dos outros para obterem vantagens próprias. Os antissociais ou psicopatas são frios, manipuladores e incapazes de sentir culpa, remorso ou compaixão. Abrangem desde os estelionatários, golpistas e corruptos, até os perigosos transgressores de regras sociais, como os assassinos ou serial killers.
Sendo assim, chamar pessoas tímidas de antissociais é um erro grave e uma enorme injustiça cometida com elas.
Na timidez, ocorre justamente o contrário. Pessoas tímidas querem se aproximar das pessoas de forma natural, espontânea, mas a cruel presença da inibição é responsável por muito sofrimento. Os tímidos apresentam sociabilidade, ou seja, possuem o desejo de se relacionar com os outros, mas não sabem como fazê-lo.
A natureza da timidez é multi-factorial, isto é, sua causa depende de vários fatores, que incluem basicamente o nosso temperamento herança genética que determina nossa bioquímica cerebral e nossa reactividade diante das coisas e nossas vivências acumuladas desde a mais tenra idade. Por isso mesmo, a timidez se desenvolve na medida em que amadurecemos e somos desafiados a enfrentar novas circunstâncias. É devido a essa natureza mesclada (genética e vivências) que algumas pessoas passam por fases de timidez e as superam, enquanto outras, em função de grandes decepções ou dificuldades constantes, perdem as esperanças e se retraem de forma intensa para dentro de si.
A timidez costuma ser bastante comum na adolescência. Nessa fase da vida o indivíduo passa a se preocupar muito com a imagem que os outros fazem dele. Não é à toa que, nesse período, tanto meninos como meninas tendem a andar em grupos específicos, nos quais são aceites por apresentarem determinados comportamentos, pensamentos, visuais e posturas. Esses grupos funcionam como uma “muralha de proteção” para os adolescentes, pois criam uma sensação de segurança coletiva e aliviam as dificuldades que eles apresentam nas interações sociais mais amplas, que deveriam ser exercidas de forma individual.

De certa forma, a timidez é uma ansiedade normal, e podemos afirmar que a maioria das pessoas se sente ansiosa em situações sociais. Exemplos típicos de circunstâncias que podem fazer qualquer pessoa se sentir tensa ou tímida são: as entrevistas de emprego, falar em público, encontros afetivos, festas surpresa de aniversário etc. Todos nós já passamos por algum tipo de situação como essas e podemos lembrar, sem muito esforço, as batidas aceleradas do coração, as mãos levemente trêmulas e húmidas e aquele “friozinho” na barriga. Essa ansiedade social costuma passar rapidamente, durante ou logo após o término do evento gerador da ansiedade. Dessa maneira, a ansiedade social ou timidez não é incapacitante e pode, muitas vezes, até contribuir para um bom desempenho em determinadas situações sociais. Isso porque o tímido, por se saber tímido, tende a se preparar previamente e com mais afinco para esses eventos. Tal qual a tristeza, que é uma reação normal dos seres humanos, e a depressão (sua correspondente adoecida), a timidez também é uma reação humana normal e, às vezes, útil. Já a fobia social ou o transtorno de ansiedade social (TAS) é a sua equivalente patológica. 

Referencias bibliograficas
BARBOSA, Silva Beatriz. mentes ansiosas. Editora Objetiva Ltda. Rio de Janeiro.

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